Projeto demonstra técnicas para aumento de produtividade de mandioca no Amazonas

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Participantes do Dia de Campo Cultivo de Mandioca em Terra Firme (foto Siglia Souza)

É possível aumentar a produtividade dos plantios de mandioca no Amazonas ocupando áreas menores, evitando desmatamento e garantindo maior oferta de alimento e rentabilidade para o agricultor. Esse exemplo foi demonstrado a agricultores de Beruri, município localizado na região da foz do rio Purus, durante o Dia de Campo Cultivo de Mandioca em Terra Firme, promovido pela Embrapa Amazônia Ocidental, no dia 2 de dezembro. Agricultores, vindos de cinco comunidades do município, puderam verificar que a produção do plantio de mandioca com adoção das técnicas recomendadas resultou em 36 toneladas de raiz por hectare, três vezes mais que a média de produção do Estado.

Essa produtividade foi alcançada no plantio em uma Unidade Demonstrativa de cultivo de mandioca em que foram adotadas técnicas de manejo recomendadas com base em pesquisas da Embrapa. No Dia de Campo, os agricultores receberam orientações gerais sobre o cultivo e participaram de uma parte da colheita para calcular a produtividade obtida nesse plantio, localizada no Km 3 do Projeto de Assentamento Beruri, zona rural do município. A variedade de mandioca plantada foi a ´Zuquinha´, de uso popular por agricultores do Estado.

O Dia de Campo realizado em Beruri é uma atividade do projeto Estratégias de socialização e transferência de conhecimentos para adoção de inovações tecnológicas nas culturas alimentares pelos agricultores familiares do Estado do Amazonas, coordenado pela Embrapa Amazônia Ocidental. O projeto Culturas Alimentares tem foco em apresentar técnicas e inovações tecnológicas relacionadas ao cultivo de mandioca, milho e feijão-caupi (conhecido também como feijão-de-praia) em 21 municípios do Amazonas. Além de agricultores e técnicos, participaram do Dia de Campo, o chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Amazônia Ocidental, Ricardo Lopes; o gerente do Idam em Beruri, George Grijó, e o secretário municipal de Produção e Abastecimento, José Maria Queiroz.

O projeto integra o programa Pró-Rural, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), Secretaria de Estado de Produção Rural (Sepror),Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia (Secti), e executado com apoio do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Amazonas (Idam).

Pesquisadora Mirza Pereira apresentou o projeto Culturas Alimentares e programa ProRural_foto Siglia Souza 2
Pesquisadora Mirza Pereira apresentou o projeto Culturas Alimentares e programa ProRural (foto Siglia Souza)

Técnicas adotadas na Unidade Demonstrativa

Os pesquisadores da Embrapa Amazônia Ocidental, Inocencio Oliveira e Mirza Pereira, explicaram aos agricultores os procedimentos adotados na Unidade Demonstrativa ao longo de um ano. Dois meses antes do plantio foi feita a correção do solo, com aplicação manual de calcário. “O calcário deve ser distribuído uniforme e precisa ser incorporado no solo, para corrigir a acidez”, orientou Inocêncio.

A seleção das partes da maniva (hastes da planta de mandioca) para o plantio é outro fator importante que influencia na produtividade. “Geralmente as pessoas aproveitam toda a rama e usam manivas com baixo potencial de produção. Partes finas da maniva germinam rápido, mas resultam em plantas pequenas”, comentou Mirza.

Os pesquisadores recomendam escolher partes mais grossas da maniva, com 2 cm de diâmetro e fazer cortes retos em pedaços de 15 cm a 20 cm de comprimento. “O corte reto enraíza mais”, explicou Inocêncio. “Basta um pedaço bem selecionado por rama, de maniva com vigor”, reforça o pesquisador. Um teste usado pelos agricultores para atestar o vigor é verificar se sai o ´leite´ da rama. O pesquisador sugere que seja feito esse teste e caso a planta esteja seca, não deve se usar a maniva.

O espaçamento do plantio é o outro fator que influencia na produção. A recomendação é a distância de 1 metro entre linhas e 1 metro entre plantas de mandioca. O pesquisador explicou que isso é necessário pois cada planta precisa ter uma área de solo suficiente para absorver água e nutrientes. “Se colocar muito perto vai dar pouca raiz, por causa da competição entre plantas, e se colocar muito longe está perdendo área, fica espaço vazio e dá mais mato, mais trabalho pra limpar”, disse Inocêncio. A pesquisadora Mirza acrescentou que é melhor cultivar áreas menores bem cuidadas com a quantidade de plantas adequadas e que rendem mais produção, ao invés de plantar áreas extensas que resultam em pouca produção e mandioca de menor qualidade.

Outro aspecto importante adotado na Unidade Demonstrativa para obter produtividade e mandiocas com boa qualidade foi a adubação, feita em três etapas. A primeira foi ao abrir as covas para plantio, com adubação à base de fósforo com 13g de superfosfato triplo por cova Depois, foram mais duas adubações de cobertura, feitas aos 45 dias e aos 90 dias após o plantio, utilizando adubos à base de nitrogênio (uréia) e potássio.  “A mandioca precisa desses nutrientes para formar raiz e o solo não tem quantidade suficiente para a planta ter uma produção satisfatória”, ressalta Inocêncio. A aplicação do adubo é ao redor da planta, numa quantidade de 5 gramas de cada, por planta.

Além disso, é necessário manter a capina ou roçagem da área nos primeiros quatro meses (120 dias) após o plantio, para evitar a competição de outras plantas com a mandioca. O pesquisador orienta que se fizer a capina antes da adubação, a planta de mandioca vai aproveitar melhor os nutrientes.

Com a adoção dessas técnicas de manejo no plantio de mandioca, o resultado em produtividade e o rendimento de produção de farinha são suficientes para pagar os investimentos em insumos (calcário e adubos), transporte e mão de obra , tendo ainda o lucro de R$ 6.168,00. Se o agricultor utilizar a mão de obra familiar é possível acrescentar R$ 7 mil pela remuneração de seu trabalho. Com a utilização da mesma área para plantio no ano seguinte, diminuem os custos com calcário para preparação da área.

Trio da Produtividade

O pesquisador Inocêncio destaca que se o agricultor não quiser investir em insumos, pode apenas adotar três técnicas recomendadas e já terá aumento de produtividade, embora menor que se utilizasse calcário e adubos. Essas três técnicas formam o “Trio da Produtividade”, que consiste na seleção das manivas, no espaçamento adequado e no controle de mato nos primeiros 120 dias do plantio. “Com essas três técnicas o agricultor não precisa tirar dinheiro do bolso e vai produzir mais, pode até duplicar a produtividade”, afirma Inocêncio.

O proprietário da área onde foi implantada a Unidade Demonstrativa, Melquezedeque Marques da Silva, viu o desempenho do plantio. “Não tenho dúvida que dá certo, com a melhor escolha da maniva, o espaçamento, o adubo e os 120 dias com capina, a gente viu a diferença, estou muito satisfeito com isso”, disse.  O produtor resolveu aplicar as técnicas do Trio da Produtividade em outra área de 1 hectare, e esse novo plantio que está com dois meses também foi apresentado no Dia de Campo para os agricultores de outras comunidades.

A agricultora Rosalina Monteiro Amaro, vice-presidente da comunidade Nova Jerusálem, disse que ficou muito interessada e pretende colocar em prática as recomendações recebidas no Dia de Campo em uma terra que está sendo preparada para plantio coletivo, na sua comunidade na zona rural do município . “Nós nunca tivemos essa orientação como está sendo dada aqui. A gente já produz, mas agora viu que pode produzir mais e melhor. Queremos continuar a buscar informação para melhoria do nosso trabalho”, disse.

O agricultor Aldenor Belarmino dos Santos, presidente da comunidade Bela Vista, disse que ficou interessado em saber que algumas mudanças na técnica, sem gastar dinheiro, já ajudam na produção, mas informa que desconhecia e considera necessária a presença da assistência técnica perto do agricultor para dar essas orientações. Ele informou que também pretende levar essas práticas para sua comunidade e vai buscar orientação.

Quem faz essa orientação aos agricultores em Beruri é o bolsista técnico em agropecuária, Manoel Contreira Neto, vinculado ao projeto Culturas Alimentares, por uma bolsa de auxílio para desenvolver atividades de assistência técnica no município relacionadas ao cultivo de mandioca, milho e feijão-caupi. Da mesma forma, o projeto mantém outros bolsistas com atividades de orientação aos agricultores nos 21 municípios contemplados: Tefé, Itamarati, Guajará, Apuí, Canutama, Borba, Ipixuna, Beruri, Itapiranga, Uarini, Humaitá, Japurá, Tapauá, São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro, Maraã, Manacapuru, Eirunepé, Envira, Caapiranga e Barcelos.

Fonte : Embrapa Amazônia Ocidental

Texto: Síglia Regina – Jornalista MTb 066-AM